quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Não, não? (A - 1)

Mais de quinze minutos atrasado e ainda não tinha certeza se deveria ir para o trabalho. Claro, era importante trabalhar, mas eu não poderia chegar assim, cansado, irritado e triste. Era um ponto além de qualquer forte maquiagem social e dificilmente um largo sorriso conseguiria dar jeito. Espinhas de raiva para explodir em tons nojentos e olheiras profundas de tristeza venciam qualquer tentativa de comportamentos socialmente aceitos para um dia normal.

Se eu não tivesse que procurar o lugar mais escondido naquele restaurante da comida levemente desagradável... talvez eu teria mais tempo. Ou se eu não tivesse visto você com aquele olhar perdido... essa crise de perseguição não teria recomeçado.

Prometeu que não me deixaria em paz, enquanto eu apenas queria que fosse embora. Cerca de quinze minutos depois, você sumiu e eu ganhei uma maldição. Seu comportamento irritante deve ter sido proposital para me fazer aceitar inconscientemente esse trato! Mas... você nem me conhece. Como poderia não me deixar em paz? Saberia onde me encontrar?

Não... eu não contava com essa hipótese... apenas lembro de ter avisado sobre o perigo de encontrar-me antes das oito horas da manhã, ou após as três da madrugada. Eu não poderia reclamar, eram duas e quinze da tarde. Estava dentro da margem de encontro.

É impossível fugir do tempo ou da existência. Soa um pouco ridículo também. Porém, ainda tenho pernas para correr, o que também não deixa de ser ridículo.Um pouco inesperado e, de certa forma, inconveniente. Deve estar olhando para mim agora. O riso corre em sua boca enquanto eu procuro afobado pela saída mais próxima da rotina.

8 comentários:

  1. Bem... interessante.gostei.

    um jeito sureal de dizer coisas simples.

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  2. Gostei do seu jeito de escrever.
    Acredito que imprime uma ótica nova ao que se encontra atualmente na net.

    Muito bom!

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  3. Pode ser, mania de perseguição? Será?
    Parece que apesar de tentar fugir, tem algo muito forte que te prende.
    Um disfarce, uma casulidade, uma teima, um capricho, desejo imoderado... Gostei demais!
    Beijo

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  4. Se a consciência de que a rotina é que é o atrapalha, fugir não é bem o remédio. Tem jeitos mais prudentes para se resolver isso...

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  5. Somos perseguidos o tempo todo, eis a modernidade.

    abç
    Pobre esponja

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  6. Eu achei seu texto instigante, meio "claustrofóbico": sente-se a angústia desse personagem ...

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  7. Bem legal o seu de escrever, não é como a maioria dos blogueiros com os seus textos agua com açucar.

    "Espinhas de raiva para explodir..."

    Sensacional.

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  8. "Espinhas de raiva para explodir..."
    iushshus gostei tbm!
    vc escreve bem =D

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