terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carona


Acreditar na sua imagem minha só fez com que eu despencasse em um desânimo confortável.

Andar, chorar, pensar, dormir, falar. A tristeza é um buraco no tempo. Quando tudo é muito rápido, ela pode ser o lugar mais tentador para descansar.
E também... foi o lugar mais próximo que encontrei. Só não esperava encontrar a pessoa mais distante por aqui. Talvez porque ela estava no mesmo buraco... mas tinha uma lanterna!

Bom, obrigado pela carona. E o jantar que eu fiz estava ótimo.
Estava tudo certo... ninguém mudou. Era pura imaginação e o tempo.

Passou.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

relato de um desconhecido

Caráter pouco e pulso fraco, ele nunca foi conhecido pelas pessoas. As línguas nunca se cansavam em seu nome. De fato nome não tinha. Como um clássico bicho do mato, era vulgarmente chamado de "Coisa", denominação essa apropriadam (me cabe comentar). Como todo ser sem nome era também quieto, mal saia de casa, se evadia por dentro de si mesmo, conseguindo por vezes uma amizade para conversar sobre coisa nenhuma.

Nunca soube o que queria, na verdade nem sabia o que era querer, não sabia, coitado, que o homem tem o "querer". Comia por fome, vivia de instinto, cheirando cada pedaço de pão antes de incorporá-lo a si. Por acaso, certo dia sem definições especiais, foi mandado para a Cidade Grande e nela ficou pequeno, amiudou-se. Mal se via o vistoso cabelo vermelho-fogo queimando ao meio-dia.

Cresceu. Virou Gente e ficou mais Bicho, Coisa. Resolveu então fazer com os coisas e bichos o que sempre fora feito com ele: pisava firme. Fingia que era feliz como os pássaros (pássaros esses que também fingem felicidade em troca de milho), era o clássico vítima-algoz. O sofrimento só era apreciado quando estava só.

O seu novo sorriso que sublinhava seu novo nome era recém comprado, tinha o esqueleto remodelado, agora esguio, andava sempre de terno: cabeça erguida e olhos pálidos, do jeito que as pessoas que o ofendiam andavam, exatamente da mesma maneira.
Quanto mais gente se tornava, mais bicho, mais coisa. Sendo, por fim, suas últimas (infelizes) palavras:

_"No mundo não se pode sonhar, é muita utopia, muito gasto de tempo em vão. No mundo se pisa em pedra, em vidro, nunca andei em plumas, ninguém anda. Não há lugar para os bons, por isso não sou bom. Se o mundo é selva sou selvagem. Sou sim um bom aprendiz."

E morreu, assim, o bicho de palavras feias.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Não (3)


Mais uma vez, eu estou aqui esperando outra noite. Você já está dormindo ou tentando com alguma dificuldade.

Eu não posso fazer parte dessa cena com você. Eu vivo aqui fora também e não somente nos seus sonhos. Tenho que ir...

Eu estou apenas acabando comigo aos poucos enquanto persisto em participar de seus jogos. Não existe nada, só mentiras. Mesmo com uma promessa de vários sentimentos intensos, eu estou vivendo apenas o seu desespero.

E, este, eu tenho certeza que não é amor.