domingo, 30 de maio de 2010

sem chão

.
o
d
n
a
o
v







sua total vontade de continuar
demais para tentar controlar a
e qualquer espaço é pequenino
estar inteiramente apaixonado
e sabe de todo o perigo que é
não encontra chão para apoio
sou apenas um sentimento que
e eu sinto que não existo mais
vai embora deixando-me leve
quando invade o meu corpo,
para aproveitar todo o medo
forte, intenso, um segundo só
da mais alta e frágil das torres
contudo, respira fundo e pula
cair e não há onde segurar-se
mergulhar, você sabe que vai
é como um segundo antes de
não sei definir essa sensação...
começa com um formigamento

Lamento Póstumo


Oh, o triste cântico das almas imortais - ainda inspiram-me o pranto! Nos lábios venenosos de ninfas adoecidas, seres do mar que navegam à macilenta luz divina, vi-me eternamente mergulhado.

Perdi-me, eu que sempre tão sóbrio e tão repleto de valores e virtudes, nos leitos devassos da lua enaltecida (pelas águas límpidas, pelo vento cálido da noite infinda).

Pensei ser uma criatura fadada à glória terrestre, aos louros do bem e livre de todo mal, mas jamais me vi como peão de deuses nórdicos ou gregos, de um jogo no qual a tentação era o perigo e a desgraça minha única ruína.

Agora que percebo minha condição de reles pecador, entrego-me ao vício do ópio e aos prazeres da dor. Pois do seio voluptuoso de minhas amantes, do perfume embriagador do antro que chamo de lar, outra vez longe nunca pretendo estar, viver ou habitar.

Fui um santo em vida, mas digo-lhe, amigo, em morte nada disso importa, nada senão o que tens na alma. E nela, nada tive - apesar da santidade -, nada trouxe - apesar da muita idade.

Sou, pois agora mera imagem, com sorte um pálido reflexo, de tudo aquilo que julguei pérfido e pagão. E tal coisa muito me apraz. Todavia, foi tudo em vão!

Imagem by Jess.

sábado, 29 de maio de 2010

sem ar

para simplesmente



ver



horas, aqui, esperando e


correr

um medo louco e teimoso de

ter

certeza de que você realmente não

quer

ou apenas uma ansiedade ameaçadora para

insistir

em algo que eu não sei, mas que quero e preciso muito
saber
porque tudo isso está deixando-me sem controle e eu não posso
cair
novamente nessa armadilha doce e cruel. Tira-me o sono e faz-me
fugir
para impedir a minha maior e louca vontade, necessidade vital de 
querer
abrir todo o meu corpo que vibra em um ritmo prestes a explodir
eparaqueeuconsigasentirtudoquepercorreomeuseragoracomesse
desejoimensoquetenhoaoteverjánãocabedentrodemimeupreciso





respirar.

terça-feira, 25 de maio de 2010

sem voz

eu não posso exigir que você ame
e nem tomar de você um beijo
apesar de tudo o que desejo
eu só nunca poderei sair
sem ver o seu sorriso
eu preciso lembrar
de, pelo menos
ter o sorriso
você só e
eu num
riso


domingo, 23 de maio de 2010

agradecimento

pequena, eu te admiro tanto, vejo teu tamanho que de diminuto tantas vezes fora deixada de lado. vejo tanta beleza condensada que me aperta o peito, amolece os braços, pernas e escurece os olhos. Megalomaníacos e derivados não entenderiam tamanho descompasso, assustados me julgariam fraco e inventivo, como se beleza fosse sinônimo de grandeza. Tua pequena boca, dizendo pequenices, me faz crescer de dentro para fora até flutuar dentro de mim mesmo. Continuarei aqui, pois tuas palavras doces alimentam meu dia.

Goodbye

This is not about friends
It's just about monsters I have to deal with
This is not about lovers
It's a big portion of guilty sinking into my head
This is not about future
It's about the past you've forgotten and what you're doing now
This is not about meanings
It's about silence and feelings
This is not about speeches
It's about kisses and whispers
This is not about changes
I't's about new jorneys and the same ending







This is not about us
It's about me without you


sábado, 22 de maio de 2010

Constatações



Amar-pé~cado fosse...
Viver, ser/ia 0 que%
_por isso que eu digo e me embolo e te perco e não sei o que pensam que é amor e soluço a cada letra de um breve "T-E A-M-O".

sexta-feira, 21 de maio de 2010

answer, interrupted



Eu agora estou num lugar onde cegos não podem ver. Desfruto do olhar de mil faces, tristes ou contentes, contemplando minha dádiva de ser - peça transparente. Vivo das flores secas de ídolos mortos, respiro o ar estival sentindo o sopro gélido adentrar-me os pulmões - sem me importar se é ou não real. Meus olhos vislumbram o mundo em preto e branco, mas o azul que se reflete no espelho é menos mistério, mais lágrimas e desencanto. Sou um esboço de quem deveria ser, como um livro aberto ao mundo sem nada escrito que se possa ler. Eu agora estou num lugar onde luz e trevas se misturam. Sendo as trevas a tua ausência, e a luz a tua ânsia.

ynitsed

terça-feira, 18 de maio de 2010

volta


acho que poderia achar
se assim fosse o que pretendia-se
para talvez conseguir parar
com o que quis brincar com

contei um pouco do conto
encontrei após aquele encontro
uma razão para viver um
novo sonho de novo

segunda-feira, 17 de maio de 2010

memory, interrupted


Mas onde está você?

Para onde levariam minha sanidade?

Qual o sentido de desejar aquilo que não se pode ter?
Por que amar aquilo que não existe?
Se fosse possível obter uma resposta, diria-me que o real é ilusório ou que a ilusão pode ser realidade?
Perder-se num mar de dúvidas ou devastar-se em certezas ébrias?

As efígies do azul, as cores do escarlate, a taça quebrada, o vinho derramado. Será tudo esboço de uma vida ausente, de alguém que perdeu-se no tempo, ou mera peça de um quebra-cabeças tão mais profundo, fruto de minh'alma, de desejo mórbido e imprudente?

Responda, responda.

egami

sábado, 15 de maio de 2010

Não há tempo

Não há tempo, mas é sempre muito pouco.
Insuficiente para falar, andar, respirar, olhar,
pensar, controlar os dedos nervosos e viver.
Suficiente e mortal para fazer o coração bater

Uso todos os meus dedos para ter sua presença por alguns instantes. Fixo meus pés para não correrem sem mim.Algumas palavras para abrir seu sorriso e controlo uma lágrima teimosa que quer sair e distorcer tudo. Pernas deslizando para longe. Elas só param por alguns segundos, quando você pára e olha para trás. E eu nunca estou preparado...

Não há tempo e é sempre pouco.

sábado, 8 de maio de 2010

ligação

trr-trr-trr-trr-trr-trr-
tu-u... tu-u... tu-u...tu.
- tum tum tum tum?
- tum tum tum tum!
tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-

...................................


quarta-feira, 5 de maio de 2010

infância (parte 3)

"O tempo passa, a criança atrofia.
Pequeno feijão, sem água, cresce deformando o meio, quando não se deforma por completo. Criança que é criança não tem opinião, voz, vontade. Criança tem choro, dengo, mimo.
Criança cresce, incha, toma conta do mundo. Criança cresce tanto que se perde, rasga o corpo pequeno e vira dono de máquina, engole tudo que vê.
E quem já nasceu gigante? Eu não sei. Mas não entendo, se todos já foram crianças, se já recebeu um não quando quis chocolate antes do almoço, se tudo já ocorreu, se o mundo se sustentou, se houve lágrimas, é muito drama.
Na minha cabeça não tem espaço para essas coisas. Sempre fui uma criança exemplar, mas precisei de alguns livros para poder dizer hoje que não gostaria de voltar no tempo. Quem gostaria de ser criança normalmente só se lembra de não ter contas a pagar, livros enormes para estudar, esquecendo que quando criança só queria poder dormir mais tarde e ficar um dia comendo doce. Puts, escrevi um texto de auto-ajuda. Se puderem entreguem para o pai e mãe mais próximos, ou usem."





E foi isso que o rapaz disse, após recrescer, após repassar pela infância. Principalmente após crescer, já crescido, mas pequeno. Uma capa compacta que muda o mundo.


fim.

domingo, 2 de maio de 2010

pó de estrela


― Você gosta mesmo de olhar para o céu, não é?
― Quando olhamos estrelas, devemos olhá-las com atenção.
― Então é por isso.
Ela baixou os olhos e o vislumbrou sob o reflexo pálido da lua.
― É por isso o quê?
― Que sempre a observo tão atentamente.
Elise sorriu e voltou a contemplar o céu noturno.
― Você não deveria dizer essas coisas para mim.
― Mas se eu não disser, outro o fará.
― É irônico que me compare com estrelas...
Agora ele olhava para elas também.
― Por quê?
― Porque para que sejam admiradas é requerido tão antes estarem mortas.
― Não diga isso.
― Observamos o passado sobre nós, e em meu estado...
― Do que está falando?
― É preciso que saiba. Em breve serei como elas, só pó e só passado.
― Oras, pra que fui compará-la à estrelas? Chega, não brinque mais.
Stephen, eu estou morrendo...

Imagem by Jess.

sábado, 1 de maio de 2010

Onde?


estava em cada palavra
em todas as minhas fotos
estava em meus olhos
bem juntinho do medo
estava em cada sorriso
e foi muito forte para mim
estava já na minha boca
mas eu não consegui dizer


the crow

Quando eu pedi para que parassem, eu queria dizer "parem". Mas ninguém realmente se importa com o significado daquilo que você quer dizer, até que faça algum sentido perante aquilo que desejam ouvir. E eu não me sinto melhor sabendo que quase todas as coisas funcionam assim. É como num grande mercado de favores trocados. Mas por que trocar tudo o que há em mim por uma página em branco? Onde eu errei para que me obrigassem a refazer todas as linhas? Quando fechei os olhos e observei a multidão partir, senti que deveria partir junto com ela. Senti que o meu lugar não era entre as folhas secas – criaturas mortas –, meu lugar deveria ser no meio da tinta negra (ainda úmida). Eu ouvi o chamado, para além da janela, voando... E agora eu quero dizer "voando". Eles deveriam ter entendido o jogo de palavras, deveriam! Pois é tarde demais para que eu diga "não" ao corvo, my old friend, e tarde demais para que eu possa explicar o "parem" outra vez.

- Para além, para além do véu?

- Você ainda vai continuar o mesmo.

"A questão não é reescrever tudo,

mas recontar tudo através de novos olhos."