segunda-feira, 30 de novembro de 2009

sem nome


embrulhei aqui o meu amor (e o teu)
nossa história
até hoje e daqui pra frente

se um dia não me amares mais
podes abrir este embrulho
e soltar ao vento
tudo o que contém

mas enquanto o amor durar
mantenha-o seguro, protegido
a salvo.

sábado, 28 de novembro de 2009

infância (parte 1)

_Não, não pode ser assim... Mas é exatamente assim, como pode? Tem suas explicações lógicas... O tempo, o tempo... O tempo está me roubando a vida, parece que quanto mais eu acelero menos tempo me resta. Lembro que quando menino encontrei um pote amarelado de talco que dizia "válido até novembro de 1997" e fiquei pensando o quão antigo deveria ser, já que para mim as datas de validades eram fantasias, uma maneira de cumprir regras, inalcansáveis, e aquele talco havia passado do prazo de validade por descaso, desleixo. Lembro, também, de ter encontrado uma caxinha branca e azul de remédio, vazia, e que dizia "válido até 2005" e pensei "2005, um remédio nunca vai chegar em 2005, daqui a sete anos, oh Deus... sete anos..." O tempo passou e quantos remédios em 2005 passaram da validade? Quantos e quantos talcos se perderam por descaso? Era bom o tempo em que o tempo era eterno, que o amanhã demorava de chegar, o tempo em que ir à escola era viajar pelo mundo, mundo grande, imenso, eterno. Agora tenho que trabalhar, pagar contas, contas, contas, e nada me sobra: raras festas, raros momentos felizes, momentos estes que duram milésimos de segundos, momentos rápidos o suficiente para não ter tempo de expressar em um sorriso a fulgás alegria. Bom mesmo é ser criança, dormir no colo da mãe quando se tem medo, se esconder dentro do armário como se nada no mundo pudesse atravessar aquela fina camada de madeira envernizada...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Muito amor

Enquanto andávamos ele não parou de cantar uma música estranha. A letra parecia dizer algo da despedida, mas o ritmo e a sua interpretação eram tão alegres que eu fiquei confusa.

No início fiquei com vergonha de perguntar, depois, estava procurando loucamente por um momento para inserir a minha curiosidade. Não lembrei de mais nada disso. Já estava cantando com aquele garoto a sua música.

kiss him, kiss him!
I can't sweep here
kiss him, kiss him!
oh... dirty lips

just two minutes to see
her eyes eating my dream
his mouth leading the quest
I have followed the queen
When I was reading my chest

Kiss him, kiss him!
cruel despair
you can't hide me
it's not fair

and pieces of parts of nothing
I swear, I really don't care
when they persist drawing about something
I'm busy with a tender nightmare

- Gostou da música, hein?
- Sim... não entendo muito bem. É sobre a traição? A mágoa, a tristeza que você guardou dela?
- (Risos) Guardo este momento como um dos mais divertidos!
- Divertido? Mas... você fala em injustiça, pesadelo, em traição! Você pede por isso! Eu não entendo você!
- São as palavras dela misturadas com as minhas. A farsa dela combinada com a minha. Mas dessa vez eu não tinha nada melhor do que a ironia para combinar com doença.
- Que amor...
- Muito amor, muito!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Despedida

Encontrei outro bilhete, hoje pela manhã. Parecia uma despedida, mas não uma outra nova despedida. Uma última despedida romântica e só, pelo menos até a última frase: "esta é sua parte, divirta-se!"

Foi bem posicionado o bilhete, não tinha como não ser visto naquele quarto vazio. Na sala, o garoto já estava esperando-me para poder fechar toda a casa novamente. Eu estava curiosa e perguntei sobre o bilhete.

- Você não mudou o lugar dele, certo? - perguntou-me desconfiado.
- Não! Foi você que...
- Sim, eu escrevi e deixei o bilhete ali para ser facilmente achado. Emocionante, não?
- Humm... é meio... que...
- O que você realmente achou? Pode dizer!
- Vazio. Vazio como esta casa. É uma despedida, eu sei, você deixou isso para alguém, mas, onde está a outra parte? Só este bilhete é tão... vazio...
- A outra parte da despedida já foi escrita há muito mais tempo e eu tentei oferecê-la várias vezes. Não tem nada desse clima, sem dramas. Isso tudo é teatro. Essa casa, o bilhete e até eu mesmo sou uma farsa.
- Não enten...
- Um bom vazio embalado de perda será sua despedida. É como um jogo para ela distrair-se com a depressão em sua mente doentia enquanto vai libertando-se aos poucos de todas as minhas palavras pesadas de sentidos inúteis.
- Mas isso... isso é...
- Trabalhoso. Realmente...
- Monstruoso! É...
- Encantador o seu comentário. Enfim, temos que ir agora.
- Espera! Você está louco? Não entende que...
- Entender foi o que me deixou preso nessa tortura um bom tempo.Venha! Está quase na hora dela abrir o presente! Precisamos ir!
- Por quê? Por que você...
- Eu não quero mais jogar. Vem!

domingo, 22 de novembro de 2009

mensagem para você

AM 11:32 - Hj vai ser bem complicado. Trabalhos e um aniversário surpresa apareceu aqui.

AM 11:50 - Aqui tbm tá complicado. Problemas, problemas e pessoas loucas. A faculdade...

PM 01:30 - Nem vou ter tempo de almoçar. Um suco, sim, um lanche talvez. Espero q esteja tudo bem com vc.

PM 01:40 - Não deixe de comer algo! Não quero que você suma mais! Que acha de resolver aparecer? Seria legal.

PM 01:45 - Sim, sim vamos marcar algo! Estou meio cansada hj e a tarde só começando.

PM 01:55 - Tô tentando fazer um trabalho, não sai nada. minha cabeça pifou.sabe, vazio, vazio?

PM 02:01 - Diagramação? Vi aquele que vc mandou e gostei. Tenta relaxar, vc trabalha demais.

PM 02:30 - Sim!Parece que saiu algo. Mais sombrio, mas tem que ser. Trabalhar está difícil. Relaxar como?

PM 03:00 - Sombrio é bom tbm. Estou recortando várias coisas, é calmo. Queria um sorvete de morango.

PM 03:37 - Um bom sorvete de morango. Juntei as cores e curvas que não usei, fiquei com pena.

PM 04:01 - Sorvete no domingo, vamos? Manda pra mim depois?

PM 04:18 - Mando sim. Tô olhando para o encarte. É a coisa mais linda do mundo!

PM 04:20 - Não! Pára! Existem coisas muito mais bonitas... Vou ter que ir agora para lá.

PM 04: 23 - Me avisa se ficar lá mais tarde? Podemos tentar o sorvete, ou um suco!

PM 05:16 - Sim, sim. eu te ligo.

PM 06:24 - Consegui terminar o trabalho! Você faz falta...

PM 11:49 - Acabou ficando tarde. Muitas coisas. Você é um cara bacana.


sábado, 14 de novembro de 2009

ligações (parte 3)


O telefone vermelho voltou a tocar meses depois, mal sabia-se que era a última vez:

_alô?
_Iolanda?
_sim, quem fala?
_não reconhece mais minha voz?
_a voz reconheço, me lembra um rosto, mas não sei quem é a dona desse rosto.
_Iolanda... acabei o casamento.
_fico feliz por você, e por ele também.
_Iolanda... eu quero te ver.
_me ver? para que você quer me ver?
_porque eu estou com saudade, terminei o casamento por você.
_eu não te pedi isso, eu nunca te pedi para terminar o casamento. não foi por mim que você acabou o casamento, você sabe disso.
_eu quero te ver.
_mas eu não posso.
_você está com outra pessoa?
_desculpa... eu não quero.
_você não me ama mais?
_não sei, mas eu não quero. posso até amar, mas não fico mais ofegante esperando uma ligação sua.

Iolanda bateu o telefone, arrancou-o da tomada e o jogou pela janela com um bilhete "Eis aqui toda a minha cor, antiga. Eis aqui o que fui por meses. Eis aqui o que não posso mais ser". O telefone caiu aos pedaços na calçada e Iolanda saiu, de roxo, ao encontro de uma nova paixão. O amor sempre fora calmo demais para ela, bela Iolanda.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

hipnotizado

sua beleza é quase um insulto
como você consegue simplesmente brilhar?
tão pequena e incrivelmente adorável!
seu sorriso deixou-me atordoado
e eu caí em seu abraço macio

lá eu fiquei seguro durante uma eternidade
que desfez-se rapidamente com seu beijo
eu já estava perdido novamente
e só voltei quando não senti mais seus lábios
consegui reagir com um beijo corrido e nervoso
e tive que deixá-la ir

mas eu continuava hipnotizado
e vai ser bem difícil quebrar esse encanto

post do Baú.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

dream draft

Your songs are points
of happiness in my life.
They had molded a true love
that flowered into a dream.
And today you became it true

- Can I give you a hug... and a kiss?
- Oh... sure!

And I'm the happiest person in this world!

november 8th, 2009
Don't-know-who saw me!

domingo, 8 de novembro de 2009

Sonho da Menina-do-sol

-Você sabe sapatear?
-Sempre quis aprender.

Logo ele se apaixonou, ela sabia responder, sabia sim, ela sabia o que responder, parecia que tinha calculado cada letra, teria ela uma fórmula para boas-respostas? Ele ficou confuso e respondeu para si mesmo que não, não havia fórmula. Via que a pele dela transpirava frescor, assim como suas palavras. Seria impossível ela ter planejado algo.

-Então se apoie aqui.

Ela se apoiou no ombro dele e segurou sua mão, uma daquelas posições impossíveis de se imaginar quando se descreve, e começaram a dar "saltinhos", acompanhados de tombos e quedas. O vestido da moça-dos-olhos-de-céu, que estava em perfeita sintonia-de-cor com os brincos de pérola, ficava cada vez mais sujo, mais e mais sujo.

-Você está me sujando toda! Riu ela em tom de exclamação.
-Estou lhe ensinando a sapatear, senhorita. Respondeu ele rapidamente, para não dar tempo de qualquer outra reclamação.

Seguiram bailando, sapateando, caindo, entre piruetas e pulos e tombos. Depois de ter perdido a formalidade de um vestido perolado bem cintado a senhorita dos cabelos-de-sol começou a tropeçar na própria risada, um riso leve e azul, como o céu, como seus olhos, que a deixava desnorteada.

-Sobe aqui, vamos! Você precisa aprender a sapatear com equilíbrio!
-Não, não vou arriscar cair na fonte. Olha como estou, meu vestido!
-Não vai cair na fonte, se bem que a água da fonte está mais limpa do que o seu vestido. Confessou o rapaz sorrindo com os olhos. Sobe, senhorita!
-Hum. Não vou não. Respondeu a senhorita franzindo a testa.

O rapaz ficou calado olhando para os olhos dela, concentrando naquele mundo azul. A senhorita fez uma careta engraçada e pulou, se equilibrou, e começou a sapatear na borda da fonte. Parecia que sempre soubera sapatear, a adrenalina queimando em suas veias e uma bela dança surgia, até que por engano as pernas se embaraçam e pluft!

-Eu disse que ia cair! Eu disse! Ela gritava entre gargalhadas e olhos semi-cerrados.
-Tudo bem, estou chegando. E logo ele pulou segurando o nariz.

Ficaram dançando na fonte, com toda a elegância molhada e os sorrisos intactos.

-Não podem ficar ai! Gritou um homem fardado.

Continuaram dançando, não ouviam nada.

-Prrrrrr! Saiam já da fonte!
-Está falando conosco? Respondeu o moço com os olhos ainda fechados.
-Tem mais algum casal de loucos nessa fonte?
-Mas Sr. Policial, só estamos...
-Não quero conversa, estou aqui para cumprir ordens, conversem o que tiverem que conversar com o delegado.
-Mas Sr. só estamos... O que é isso?
-Está tentando me enganar mocinha?
-Não, tem algo branco saindo de seu bolso!
-O nome disso é lenço. Saiam daí, não quero me molhar também!
-Não, eu sei o que é um lenço. Disse a moça fazendo um bico. Isso é...
-Uma flor! Uma flor? É, uma flor. Mas... uma flor? Uma flor... O moço ficou se indagando e respondendo, como em um monólogo eterno.
-O que? Uma flor? O policial continuou a indagação olhando para seu bolso, mas sem confirmações.
-É, uma flor. Disse a moça. Uma flor que tem o talo vermelho. Vermelho? Como...
-Não é o talo, é uma veia! Disse o rapaz em êxtase.
-Meu Deus! A flor não está saindo do meu bolso, está saindo do meu coração. E vocês dois, não se atrevam a fugir.

Quando o policial foi pegar as algemas, viu que tinham desaparecido, e no seu lugar havia apenas um livro de poesia, compacto e infinito. O rapaz e a moça saíram da fonte e suas roupas agora estavam limpas, contudo encharcadas, saíram dançando, agora banhados pelo restinho de sol que aquecia levemente seus trajes e suas peles. Não sabiam nomes, assim como não sabiam onde estavam, sabiam que havia uma flor, água, céu e muito espaço para continuar sapateando, dançando na chuva que estava prestes a cair.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

ligações (parte 2)


Dias depois, exatamente quatro, o velho telefone vermelho fazia dois barulhos que se mesclavam: o som que o próprio foi feito para alertar uma chamada e o som de um aparelho velho que se bate todo por falta de ajuste ou por sobra de tempo. as taças e garrafas, vazias, começavam a ficar ameaçadas pelo telefone cor-de-sangue, até que a moça com a maquiagem gasta resolve dar atenção ao único objeto-de-cor da casa, atende em silêncio:

_alô.
_hum.
_Iolanda?
_fala logo, você tem pouco tempo.
_não faz assim, não...
_hum...
_para que tanta festa? tanto drama? só por um atraso? não é possível. você tem outra pessoa? o que está acontecendo? você está usando um atraso bobo como desculpa para qualquer outra coisa.
_era só isso que tinha a dizer?
_só isso? só isso? eu amo.

Iolanda puxou o fio do telefone, arrancando-o da tomada, mas permaneceu com o aparelho colado ao rosto, como se fizesse parte dela. não tinha muita consciência, uma face sem expressão, e assim permaneceu por um tempo, até derrubar duas taças e dormir perto dos cacos.

domingo, 1 de novembro de 2009

ligações (parte 1)


Chegou tropeçando em sorrisos, era a mais bela do local. sua beleza não era física, mas todos reconheciam que era bela, belíssima. pede uma torta de trufas e come delicadamente. vai ao banheiro para retocar o batom. volta. senta. vai ao banheiro novamente, minutos escorrem no espelho. volta. abre um livro. olha o relógio. pega o óculos de grau. começa a ler o livro. volta algumas vezes para entender o que lia. olha ao redor. teme ser pega de surpresa. vai ao telefone público:

-alô.
-Iolanda? é você?
-sim.
-que número é esse? já estou chegando!
-estou ligando do telefone público.
- já estou chegando!
-chegando? você está onde?
-estou saindo do trabalho, uma confusão com a gerente acabou me fazendo perder o horário.
-você nunca se atrasou antes...
-me desculpe, não pude evitar dessa vez.
-você sabia o quão era importante ser pontual hoje, especialmente hoje.
-eu sei, eu estou chegando, não fique irritada comigo, por favor, hoje não.
-você terminou o casamento? ou ao menos começou a falar sobre isso?
-estou no trânsito, podemos discutir isso outra hora.
-eu perguntei se você terminou o casamento.

As lágrimas de Iolanda secaram e seu rosto exalava dor, apenas dor, como uma estátua que não consegue chorar com lágrimas. estava perdendo toda a beleza que até então tomava conta do local.

-não.
-você brigou?
-não, mas é porque...
-não precisa mais vim, eu não estarei aqui quando você chegar.
-não fa...

A ligação caiu, os créditos do cartão tinham chegado ao fim, ela sentiu as pernas bambas, se equilibrou apoiando-se no cabine telefônica, respirou e foi embora, arrastando seu vestido de festa como uma alma.