domingo, 18 de abril de 2010

infância (parte 2)

Depois de muito reclamar o homem acabou caindo no sono, ainda sussurrando problemas. Acordou, se sentiu menor, sentiu que tinha encolhido e o seu quarto estava estranho, pensou então que era um sonho e começou a aproveitar.

_Mãe, mãe?
_Oi filho? Porque já está acordado? Hoje é sábado, você não tem aula, durma mais um pouco e me deixe trabalhar aqui.
_Mas estou sem sono mãe, quero comer, estou com fome.

Comeu, ficou cheio e quando estava prestes a transbordar se deitou vendo televisão, mas não estava prestando atenção no desenho, só conseguia pensar na alegria de estar ali, em pleno sábado de manhã sem compromisso, sem um chefe para aturar, e com o café da manhã nas mãos, sem precisar lavar os pratos depois.

_Mãe, quero brincar na rua. Não quero mais ver esse desenho!
_Filho, tá muito cedo, não tem nenhuma criança na rua...
_Não tem problema, eu vou na casa do Pedro e chamo ele!
_Não! Isso não é hora de incomodar os outros, fique ai na sala quietinho ou volte a dormir.
_Mas mã...
_Filho, eu disse não.

Quando percebeu que não havia diálogo começou a se questionar o quão bom era ser criança, mas logo comparou esperar algumas horas deitado com ter que trabalhar sabado de madrugada, se sentiu feliz por fim, e dormiu no sofá.

_Acorda menino! O almoço está quase pronto e não tomou banho ainda. Corre pro banho, e lava essas orelhas direito, nada de deixar shampoo no cabelo porque dá caspa e nada de ficar brincando no chuveiro, acabei de lavar o banheiro.
_Ah mãe, mas eu quero ir pra rua antes de tomar banho!
_Você só vai brincar com seus amigos pela tarde. Vamos, vamos, adianta! Levanta desse sofá e vai tomar banho. Ah crianças... Seu pai daqui a pouco chega e te encontra ai nesse estado, e vai dizer que não sei cuidar de minha casa.

Tanta autoridade já começava a irritar o pequenino homem, em outros tempos ele faria o que quisesse, contudo teria que pagar contas, já não sabia se era melhor obedecer uma pessoa o tempo inteiro ou obedecer apenas no trabalho, algumas horas por dia. Se chateou e foi tomar banho, mas não sem antes chutar metade dos móveis e machucar o dedo.

_Pronto mãe, tomei banho, agora posso ir na casa do Pedro?
_Não filho, o almoço sai em 20 minutos, e não é hora de sair pela casa dos outros. Filho! O que foi isso no seu dedo? É sangue?
_É mãe, chutei a quina da mesinha.
_Own filho, porque não me disse para eu colocar remédio? Doeu muito? Venha cá para eu dar um beijinho! Você nem chorou, tá um homemzinho mesmo em! Sangrou muito? Tá doendo agora? Porque tá fazendo essa carinha? Ta doendo, tá?
_Mãe, foi só um cortezinho, vou ver televisão.
_Não, não foi só um cortezinho, venha fazer um curativo, venha cá... Jajá vai ficar bom, tá? Tem curativo dos carrinhos no armário, um instante, vou pegar!

Ele se sentia cuidado, super-protegido, se sentia feliz, apesar dos pesares. Logo seu pai chegou, reclamou do trabalho e se sentou na mesa reclamando da comida. O almoço foi servido e, graças ao corte, o garoto não teve que comer tudo do prato, apesar do argumento "tem que comer tudo para ficar fortinho".

Nenhum comentário:

Postar um comentário