Oh, o triste cântico das almas imortais - ainda inspiram-me o pranto! Nos lábios venenosos de ninfas adoecidas, seres do mar que navegam à macilenta luz divina, vi-me eternamente mergulhado.
Perdi-me, eu que sempre tão sóbrio e tão repleto de valores e virtudes, nos leitos devassos da lua enaltecida (pelas águas límpidas, pelo vento cálido da noite infinda).
Pensei ser uma criatura fadada à glória terrestre, aos louros do bem e livre de todo mal, mas jamais me vi como peão de deuses nórdicos ou gregos, de um jogo no qual a tentação era o perigo e a desgraça minha única ruína.
Agora que percebo minha condição de reles pecador, entrego-me ao vício do ópio e aos prazeres da dor. Pois do seio voluptuoso de minhas amantes, do perfume embriagador do antro que chamo de lar, outra vez longe nunca pretendo estar, viver ou habitar.
Fui um santo em vida, mas digo-lhe, amigo, em morte nada disso importa, nada senão o que tens na alma. E nela, nada tive - apesar da santidade -, nada trouxe - apesar da muita idade.
Sou, pois agora mera imagem, com sorte um pálido reflexo, de tudo aquilo que julguei pérfido e pagão. E tal coisa muito me apraz. Todavia, foi tudo em vão!
Imagem by Jess.
Póstumo. Era essa a palavra que eu vinha buscando para definir os seus textos ultimamente. Não sei o que lhe aflige, mas deve ser algo belo, não? Pois lhe faz unir as palavras dessa forma tão... abstrata e única. Adoro. Você já sabe.
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