forte, intenso, um segundo só
da mais alta e frágil das torres
contudo, respira fundo e pula
cair e não há onde segurar-se
mergulhar, você sabe que vai
é como um segundo antes de
não sei definir essa sensação...
começa com um formigamento
Oh, o triste cântico das almas imortais - ainda inspiram-me o pranto! Nos lábios venenosos de ninfas adoecidas, seres do mar que navegam à macilenta luz divina, vi-me eternamente mergulhado.
Perdi-me, eu que sempre tão sóbrio e tão repleto de valores e virtudes, nos leitos devassos da lua enaltecida (pelas águas límpidas, pelo vento cálido da noite infinda).
Pensei ser uma criatura fadada à glória terrestre, aos louros do bem e livre de todo mal, mas jamais me vi como peão de deuses nórdicos ou gregos, de um jogo no qual a tentação era o perigo e a desgraça minha única ruína.
Agora que percebo minha condição de reles pecador, entrego-me ao vício do ópio e aos prazeres da dor. Pois do seio voluptuoso de minhas amantes, do perfume embriagador do antro que chamo de lar, outra vez longe nunca pretendo estar, viver ou habitar.
Fui um santo em vida, mas digo-lhe, amigo, em morte nada disso importa, nada senão o que tens na alma. E nela, nada tive - apesar da santidade -, nada trouxe - apesar da muita idade.
Sou, pois agora mera imagem, com sorte um pálido reflexo, de tudo aquilo que julguei pérfido e pagão. E tal coisa muito me apraz. Todavia, foi tudo em vão!
Imagem by Jess.
Eu agora estou num lugar onde cegos não podem ver. Desfruto do olhar de mil faces, tristes ou contentes, contemplando minha dádiva de ser - peça transparente. Vivo das flores secas de ídolos mortos, respiro o ar estival sentindo o sopro gélido adentrar-me os pulmões - sem me importar se é ou não real. Meus olhos vislumbram o mundo em preto e branco, mas o azul que se reflete no espelho é menos mistério, mais lágrimas e desencanto. Sou um esboço de quem deveria ser, como um livro aberto ao mundo sem nada escrito que se possa ler. Eu agora estou num lugar onde luz e trevas se misturam. Sendo as trevas a tua ausência, e a luz a tua ânsia.
ynitsedQuando eu pedi para que parassem, eu queria dizer "parem". Mas ninguém realmente se importa com o significado daquilo que você quer dizer, até que faça algum sentido perante aquilo que desejam ouvir. E eu não me sinto melhor sabendo que quase todas as coisas funcionam assim. É como num grande mercado de favores trocados. Mas por que trocar tudo o que há em mim por uma página em branco? Onde eu errei para que me obrigassem a refazer todas as linhas? Quando fechei os olhos e observei a multidão partir, senti que deveria partir junto com ela. Senti que o meu lugar não era entre as folhas secas – criaturas mortas –, meu lugar deveria ser no meio da tinta negra (ainda úmida). Eu ouvi o chamado, para além da janela, voando... E agora eu quero dizer "voando". Eles deveriam ter entendido o jogo de palavras, deveriam! Pois é tarde demais para que eu diga "não" ao corvo, my old friend, e tarde demais para que eu possa explicar o "parem" outra vez.
- Para além, para além do véu?
- Você ainda vai continuar o mesmo.
"A questão não é reescrever tudo,
mas recontar tudo através de novos olhos."