domingo, 1 de novembro de 2009

ligações (parte 1)


Chegou tropeçando em sorrisos, era a mais bela do local. sua beleza não era física, mas todos reconheciam que era bela, belíssima. pede uma torta de trufas e come delicadamente. vai ao banheiro para retocar o batom. volta. senta. vai ao banheiro novamente, minutos escorrem no espelho. volta. abre um livro. olha o relógio. pega o óculos de grau. começa a ler o livro. volta algumas vezes para entender o que lia. olha ao redor. teme ser pega de surpresa. vai ao telefone público:

-alô.
-Iolanda? é você?
-sim.
-que número é esse? já estou chegando!
-estou ligando do telefone público.
- já estou chegando!
-chegando? você está onde?
-estou saindo do trabalho, uma confusão com a gerente acabou me fazendo perder o horário.
-você nunca se atrasou antes...
-me desculpe, não pude evitar dessa vez.
-você sabia o quão era importante ser pontual hoje, especialmente hoje.
-eu sei, eu estou chegando, não fique irritada comigo, por favor, hoje não.
-você terminou o casamento? ou ao menos começou a falar sobre isso?
-estou no trânsito, podemos discutir isso outra hora.
-eu perguntei se você terminou o casamento.

As lágrimas de Iolanda secaram e seu rosto exalava dor, apenas dor, como uma estátua que não consegue chorar com lágrimas. estava perdendo toda a beleza que até então tomava conta do local.

-não.
-você brigou?
-não, mas é porque...
-não precisa mais vim, eu não estarei aqui quando você chegar.
-não fa...

A ligação caiu, os créditos do cartão tinham chegado ao fim, ela sentiu as pernas bambas, se equilibrou apoiando-se no cabine telefônica, respirou e foi embora, arrastando seu vestido de festa como uma alma.

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