terça-feira, 24 de novembro de 2009

Despedida

Encontrei outro bilhete, hoje pela manhã. Parecia uma despedida, mas não uma outra nova despedida. Uma última despedida romântica e só, pelo menos até a última frase: "esta é sua parte, divirta-se!"

Foi bem posicionado o bilhete, não tinha como não ser visto naquele quarto vazio. Na sala, o garoto já estava esperando-me para poder fechar toda a casa novamente. Eu estava curiosa e perguntei sobre o bilhete.

- Você não mudou o lugar dele, certo? - perguntou-me desconfiado.
- Não! Foi você que...
- Sim, eu escrevi e deixei o bilhete ali para ser facilmente achado. Emocionante, não?
- Humm... é meio... que...
- O que você realmente achou? Pode dizer!
- Vazio. Vazio como esta casa. É uma despedida, eu sei, você deixou isso para alguém, mas, onde está a outra parte? Só este bilhete é tão... vazio...
- A outra parte da despedida já foi escrita há muito mais tempo e eu tentei oferecê-la várias vezes. Não tem nada desse clima, sem dramas. Isso tudo é teatro. Essa casa, o bilhete e até eu mesmo sou uma farsa.
- Não enten...
- Um bom vazio embalado de perda será sua despedida. É como um jogo para ela distrair-se com a depressão em sua mente doentia enquanto vai libertando-se aos poucos de todas as minhas palavras pesadas de sentidos inúteis.
- Mas isso... isso é...
- Trabalhoso. Realmente...
- Monstruoso! É...
- Encantador o seu comentário. Enfim, temos que ir agora.
- Espera! Você está louco? Não entende que...
- Entender foi o que me deixou preso nessa tortura um bom tempo.Venha! Está quase na hora dela abrir o presente! Precisamos ir!
- Por quê? Por que você...
- Eu não quero mais jogar. Vem!

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