No saguão principal da rodoviária um menino quase-sozinho inquieta-se com o arrastar do tempo, que tantas outras horas correra, fugira, dissipara. Estava muito nervoso, o sol ameaçava nascer, temia uma insônia, um pesadelo ou qualquer acontecimento que tirasse sua mãe da cama e a levasse até o bilhete deixado na geladeira com os dizeres (muito bem escolhidos e repensados):
"Vou viajar, tudo me sufoca e estou começando a me satisfazer com algumas canções. Não é fazendo pouco caso das canções, eu apenas nunca esperei resolver meus problemas com uma música, estou afogando, naufragando em velharias, brinquedos quebrados e sentimentos quaisquer. Não sou um quarto de quinquilharias, e se sou, não quero mais ser. Isso me sufoca diariamente, e me cega. Não sei o que me deixa sem ar, o que me deixa sem sentido, mas agora já não me importa saber a causa, procuro apenas a solução, não consigo mais ser completo. Sei que meu coração nunca será maior que o mundo, ele se limita em mim, no espaço que sobra no meu corpo, mas sei que ele ainda pode crescer, tenho um pouco de espaço livre, buscarei dar mais e mais espaço a ele, preciso de ar, muito ar. Com um sorriso triste agradeço tudo que fez, que faz, que planejou fazer por mim. Eu não estou chorando, da mesma forma que você não deve chorar, fico triste, fico alegre, nunca consegui chegar a uma ideia sólida quando se trata de relacionamentos, acho que amo você. Eu achei que conseguiria dizer tudo em um bilhete de recado e aqui estou eu no terceiro bilhete e com letras cada vez mais miúdas. Sinto saudade das coisas que nunca tentamos ser, sei que sentirei saudade de muitas coisas que nunca aconteceram. Porque nossa mente nos prega tantas peças? Tenho pressa, sinto pela rima, sinto mesmo, mas preciso ir.
Se alimente bem, cuide bem das pessoas."
Se alimente bem, cuide bem das pessoas."
O ônibus chegou e os olhos do garoto nadaram em águas salgadas, sentiu uma dor no peito, por um instante quis que sua mãe tivesse aparecido com um sermão pronto e com uma força incontrolável no pulso, suficiente para arrastá-lo para casa. Seu coração era uma máquina de escrever. E foi, com medo, buscar alegrias que rompessem o limite do "suficiente".
Liindoo, perfeitamente diferente...
ResponderExcluirRebelde, intrigante e impossivel de não se apaixonar pelo bloog
Gamei *-* Demais
oooh, muito obrigado Ana, muito obrigado.
ResponderExcluirestou passando por um momento parecido com o que você descreveu, e nessa busca pela força de tomar a atitude certa li muitas coisas. agora, gostaria de compartilhar um trechinho com você:
ResponderExcluir"Se partisse, poderia voltar com o orgulho de ter-se perdido. Fora da porta, patético e lírico; em casa, nenhum mistério para ninguém.(...) Certo, ela o amava. Como a um filho morto e crucificado no ventre."
[Dalton Trevisan - Mãe e filho]
que belo casamento de texto, obrigado pela contribuição Fernanda.
ResponderExcluirCara,tava olhando o blog, como eu faço regularmente e tive que ler a história mais uma vez, alem das tantas que eu jah li, até mesmo pras minhas amigas. Pois é um dos que eu mais amo aqui, esse é do tipo perfeito. Eu só queria dizer isso, que é lindo, que eu amo muito e que esse texto mexeu muito comigo desde a primeira vez que eu li*-*... acho que quase chorei, mais não conta pra ninguem tah :D
ResponderExcluirAmo muito ;D