sinto em interromper a história, contudo acompanhei pedaços, talvez eu tenha cochilado, por fim acordei nú. apesar das telhas, portas, janelas, paredes, cobertas, e todas as demais barreiras físicas, me senti nú à noite no deserto. não me senti em pé, nem sentado, eu era um ponto que congelava no deserto, acordado em pleno dia, e como qualquer ponto não existia posição. as pernas, mesmo sem saber que eu andava, fraquejavam, percebi o desequilíbrio ao observar o chão se aproximando e se afastando, tudo muito lento, afinal não se rasga um corpo por completo de uma só vez.
o carro, a terra, o vento, tudo chegava ao mesmo tempo no meu rosto, minha face congelou. não movia um músculo: enquanto o vento mantinha meus olhos abertos, o farol do carro me cegava e a terra arranhava tudo que poderia ser visto. o acidente chegava cada vez mais perto de mim, até que entrou, se apossou, capotou em mim, rasgando o que podia e arranhando o que aparentemente estava ileso.
são tantos olhos em cima de mim, nenhum me vê. não estou ali.
fonte.
Adoro os textos mais longos, saudades.
ResponderExcluir