Eram três livros enormes, pesava, entortava o corpo frágil de menino leve. Cada um pesava um mundo, com um peso leve e disfarçado. Em cada capa havia uma pena, simbolizando a leveza de seu conteúdo, enquanto suas dimensões físicas provavam o contrário.
Era claro que o garoto acreditaria na capa, a pena era enormemente leve, qualquer um flutuaria só de vê-las.
O que a princípio parecia ser uma tarefa manual, acabou se transformando em uma brincadeira. Quase um jogo. Algumas vezes não carregava nada, mesmo achando que não fosse pesar, as poucas três penas se transformavam em pavões, caudas enormes, se arrastando pelas páginas cada vez mais infinitas, impossível tentar um transporte. Ao acordar, havia um livro de bolso na cabeceira da cama com uma pluma leve na capa.
Assim, aos poucos, o menino conseguiu carregar todos para sua toca, como uma criança e seu baú. Tocava pouco neles, tinha medo de crescerem e engoli-lo, mas tocava. Tinha medo de rasgar, medo de não entender. Um dia escolheu um aleatoriamente, abriu-o, seus olhos grandes e atentos percorreram a primeira página em branco, nenhum sinal de vida, respirou fundo, passou a página. Mais uma página em branco, ficou com medo, descansou os olhos e na terceira página leu o título, ficou fascinado, guardou para si como se aquele livro fosse único, pois sabia que era mesmo. Fechou o livro, pensou ter lido demais, guardou-o, foi embora.
Semanas depois o garoto retorna, olha para os livros, encontra três tigres dormindo, em uma caixa pequena. Olha atentamente, como se nunca tivesse visto algo parecido, seu guarda-roupa virara uma jaula, sem uma pena sequer. Os tigres às vezes acordavam, faziam exigências "Fecha a porta", "Não me olhe com essa cara de medo", "Você não vai tocar em mim", "Nos deixe em paz".
O garoto não mais toca na porta, os tigres ficaram com fome, querem sair, já devoraram todos os seus poemas, continuam famintos.
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escrevem muito bem!
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